Historia do Santo José de
Anchieta
João
Ramalho era amigo de Brás Cubas, o Governador da Capitania de São Vicente, e se
casou com Mbici, uma índia também conhecida com o nome de Bartira, filha do
Cacique Tibiriçá, chefe da tribo dos Guaianases. Naquela época, segundo o
conceito indígena, eles acreditavam que um homem que se casasse com uma índia,
passava a fazer parte da tribo. Este fato colaborou para que fosse formada uma
firme aliança entre os portugueses e os índios Guaianases, e mais tarde, também
com a tribo Tupiniquins, que aderiu a aliança. Ambas as partes se ajudavam
mutuamente, buscando cobrir as necessidades do trabalho.
Por
outro lado, como não havia mão de obra suficiente para a lavoura, os
colonizadores portugueses tiveram a idéia de pegar índios de outras tribos,
para trabalhar nas plantações de cana de açúcar, que era à base da economia da
Capitania de São Vicente. Sem lei que os impedisse, caçavam e escravizavam os
indígenas sem a menor cerimônia. E na continuidade, os portugueses atacaram a
tribo Tupinambás, porque Cairuçu, Cacique da Aldeia e sua tribo, vinham
fustigando e saqueando as propriedades portuguesas, em represália, por causa da
escravização dos índios, pelos lusitanos. A invasão foi ordenada por Brás
Cubas, Governador da Capitania, e houve muita destruição e mortes, sendo
capturada grande quantidade de índios, e entre eles o Cacique Cairuçu, chefe da
tribo, e o seu filho Aimberê.
Entretanto,
em face dos maus tratos sofridos no cativeiro, o CaciqueCairuçu morreu. E por
isso, como era o costume, prepararam a cerimônia para o sepultamento, de acordo
com o ritual indígena. Mas, sem que ninguém percebesse o filho Aimberê fugiu
para as terras da Capitania do Rio de Janeiro, e lá, trabalhou firme,
instigando a revolta das outras tribos contra os portugueses.
Em
fins de 1554, Aimberê reuniu-se no litoral, onde hoje é Mangaratiba, com os
outros Chefes Tupinambás que ocupavam a área litorânea que se estende desde
Cabo Frio (Estado do Rio de Janeiro) a Bertioga (Estado de São Paulo), ou seja,
do litoral sul fluminense ao litoral norte paulista, e juntos constituíram a
temível Confederação dos Tamoios (“Tamuya” no dialeto Tupinambás), que
em português significa: “o mais velho”, ou seja, “os mais antigos na
área”.
A
Confederação tinha por objetivo combater os portugueses e todos que os
apoiassem, entre eles, Tibiriçá Chefe dos Guaianases e a tribo Tupiniquins.
Em
1555, os protestantes franceses desembarcaram no Rio de Janeiro, liderados pelo
Almirante Nicolau Durand de Villegaignon, e querendo permanecer na área, logo
se aliaram a Confederação dos Tamoios, oferecendo armas e munições, em troca da
permanência no território brasileiro, pois ambicionavam fundar aqui a França
Antártica, para receber todos aqueles que eram perseguidos em seu país.
O
primeiro Chefe que Comandava a Confederação foi o Cacique Cunhambebe, que
residia numa Aldeia próxima a Angra dos Reis. Era um valente e destemido
guerreiro, que marcou sua presença na história, por suas notáveis estratégias e
ferozes ataques contra os portugueses. Faleceu em sua Aldeia, em consequência
de um surto de doenças contraídas pelo contato com os brancos. Todas as tribos
indígenas que viviam no litoral brasileiro, sem exceções, eram antropófagos,
comiam prazerosamente os seus inimigos mortos em combate.
Aimberê
foi eleito por unanimidade, o novo Comandante Chefe da Confederação e logo de
inicio, inteligentemente usou a estratégia de ampliar a Confederação,
procurando Jagoanharó, chefe de uma tribo Goianases e sobrinho do Cacique
Tibiriçá, para que ele convencesse o seu tio, CaciqueTibiriçá dos Guaianases, a
deixar os portugueses e participar da Confederação, mesmo que fosse por
experiência durante um período de três luas. Mas quando as tribos se juntaram,
surgiram ciúmes que originaram desavenças entre os índios. Então, Tibiriçá
decidiu continuar fiel aos colonizadores portugueses. Resultou que foi travado
um violento combate entre a Confederação e os Guaianases, morrendo muita gente,
inclusive o Cacique Tibiriçá.
Padre
Manuel da Nóbrega percebendo aquela terrível onda de violência, a ganância dos
franceses que já estavam estabelecidos na Guanabara há vários anos, e também, a
falta de atitude da Coroa Portuguesa, convocou o Irmão José de Anchieta, para
ajudá-lo a resolver aquela situação. Padre Nóbrega não aceitava a presença dos
franceses e trabalhava para apaziguar os ânimos, estabelecendo um acordo de paz
entre os índios e os portugueses. Os dois missionários no dia 21 de Abril de
1563, partiram da Vila de São Vicente no navio de José Adorno, um genovês que
morava na Vila, e rumaram para Iperoig (Ubatuba). Chegando ao local, Adorno
mandou o seu navio de volta e permaneceu com os missionários que foram
recebidos pelos Tamoios na praia, os quais, a principio, se mostraram hostis e
com muita frieza, mas sendo saudados por Anchieta no mais puro dialeto tupi com
promessas de paz e amizade, os índios se descontraíram e acolheram os
emissários Jesuítas com cortesia. Na Aldeia indígena, logo de início, o Cacique
Caoquira enumerou uma série de queixas contra os portugueses, que os
missionários em absoluto silêncio ouviram, como era o costume. Na continuidade
do diálogo, nos dias que se seguiram, Caoquira mandou emissários chamar todos
os
Chefes Confederados
para conversar com os Jesuítas.
Enquanto
esperavam chegar os Caciques das outras tribos, os dois missionários procuraram
sensibilizar os selvagens. Armaram uma Capela e ajudado pelo Irmão José, Padre
Nóbrega, todo paramentado celebrava a Santa Missa todos os dias. Os índios
ficavam encantados com a beleza da cerimônia. No final de cada Missa, o Irmão
José de Anchieta, com inteligência e sabedoria, lhes explicava a doutrina da
Igreja, em tupi, de um modo fácil, a fazê-los compreender. E com muito barulho,
andando em volta dos selvagens, batendo o pé no chão, gesticulando muito e
fazendo pausas nos momentos mais dramáticos de suas pregações, deixava os
índios atenciosos e concentrados, ouvindo as suas palavras. Logo, os Caciques
Cunhambebe e Pindobuçu, também chegaram com suas tribos inteiras, e com
alegria, participavam da Santa Missa.
Irmão
José também começou a ensinar às crianças as músicas religiosas que compusera
em tupi. Aquela cantoria deixava a criançada feliz e também atraia os adultos
para as pregações dos missionários.
Todavia,
a tranquilidade que existia no ambiente foi quebrada com a chegada do Cacique
Aimberê com alguns índios de sua tribo, criticando os portugueses e não
acolhendo os missionários da paz. Fez muitas e absurdas exigências, que não
podiam ser aceitas. Então os outros Caciques conferenciaram com ele e encontram
uma possível solução. Aimberê se ofereceu como emissário para ir discutir um
Tratado de Paz com as autoridades na Vila de São Vicente. Assim ficou decidido
e o genovês José Adorno seria o seu companheiro de viagem, levando uma longa
carta para o Governador da Capitania, escrita pelo Padre Manuel da Nóbrega que
ficou em Iperoig com Anchieta.
Aimberê
e sua comitiva foram recebidos com todas as honras e dignidade, em São Vicente.
E, de imediato, começaram as conversações que se estenderam por muitas semanas.
Nóbrega
e Anchieta continuaram com seu trabalho em Iperoig, onde existia na verdade,
índios que eram a favor e outros que eram contra a paz. Certo dia, estando os
dois na praia, viram se aproximar umas canoas com índios comandados pelo
Cacique Paranapuçu, que não estavam com jeito de bons amigos, porque davam
gritos irados, que traduziam a intenção de matar os religiosos. Sem outra
defesa, os dois apelaram vigorosamente para as pernas e correram para fugir
dali. Logo na frente um riacho... Nóbrega sendo mais velho e se sentindo
cansado, Anchieta o colocou nos ombros e atravessaram o riacho. Seguiram
correndo com o maior esforço para se refugiar na casa do Cacique Pindobuçu. Mas
ele não estava e aqueles índios vinham se aproximando! Então, eles se ajoelham
e abraçados, rezavam em voz alta, quando chegaram os índios! Os selvagens
ficaram espantados e hesitaram em matá-los! Anchieta percebendo aproveitou a
oportunidade e tomou a iniciativa; levantou-se e pregou em tupi aos gritos, até
que os agressores, entre intimidados e surpresos diante daquela cena, que não
entenderam claramente, decidiram não matá-los! Como se pode compreender, os
missionários suspiraram aliviados.
Como
a situação do Tratado de Paz não se resolvia em São Vicente, Padre Manuel da
Nóbrega decidiu voltar sozinho, deixando o Anchieta em Iperoig, pois o retorno
de ambos ia acabar com as esperanças de paz na região.
Sem
a companhia de Nóbrega, o Irmão José passou a enfrentar sozinho o difícil
problema da convivência com os índios. E como era o seu costume, rezava muito
para NOSSA SENHORA, suplicando a preciosa proteção da MÃE DE DEUS e, sobretudo
o auxilio Divino, para vencer todas as tentações e cumprir sempre a Vontade do
SENHOR, mantendo-se fiel aos Votos que jurou.
Foi
nesta ocasião que ele compôs o admirável e famoso poema a VIRGEM MARIA,
escrevendo com uma vara, nas areias da praia de Iperoig. Como não tinha papel,
decorou todo o poema e meses mais tarde, escreveu-o num caderno.
Mas
verdadeiramente, o Irmão Anchieta viveu dias muito difíceis, porque estando
sempre em evidência, com os seus ensinamentos e conselhos, ajudando os
selvagens mesmo nas coisas mais modestas, era assediado pelas índias que
queriam namorar com ele. Algumas eram mais renitentes e incisivas, queriam
visitá-lo na oca, obrigando-o muitas vezes a fugir, abandonando a sua morada e
indo dormir em cima de uma pedra, numa encosta rochosa um pouco distante da
aldeia indígena.
Homem
íntegro e de caráter ilibado, vivendo junto aos índios, tinha que esquecer
estas investidas assim como todos os seus aborrecimentos, e no dia seguinte,
continuar normalmente com o seu trabalho, exercitando uma sadia catequeses e
buscando colocar a paz e a concórdia no coração dos selvagens.
Mas,
o ser humano sempre foi o mesmo em todos os séculos, cada um com os seus "cacoetes"
oriundos de maus pensamentos, inveja, orgulho, vaidade, ciúme ou
simplesmente por um próprio espírito de critica. E o Irmão José sentiu isto em
sua própria carne e no seu espírito, embora só estivesse praticando o bem em
benefício dos índios. Quase que diariamente surgiam perigos. Um dos Caciques da
Confederação o ameaçou de morte, culpando-o pela ausência de caças nas
armadilhas, como se ele fosse o culpado. Anchieta incisivamente disse que havia
um engano e mandou que o Cacique e seus índios voltassem a examinassem
corretamente as armadilhas, e a seguir saiu para rezar na cabana. Os índios e o
Cacique foram e encontraram as armadilhas carregadas de caças. Em outra
ocasião, um perigo mais grave, chegou um mensageiro dizendo que um membro da
comitiva de Aimberê tinha sido assassinado em São Vicente. Os índios chegaram a
se decidirem a matar Anchieta em represália, quando providencialmente, surgiu
das matas, "mais vivo que nunca", o tal índio sumido. Ele
estava cansado daquelas "conversas" e fugiu para casa.
Certo
dia, quando as negociações pareciam ter chegado a um impasse na Vila de São
Vicente, a notícia chegou a Iperoig e os selvagens resolveram mesmo a matar e
comer de uma vez o Irmão José. E com esse objetivo foram à oca onde ele estava.
Quando o CaciquePindobuçu entrou acompanhado de outros índios, tiveram uma
grande surpresa: o Jesuíta estava suspenso no ar, em orações levitando a mais
de um palmo do chão. Assombrados os índios se afastaram. E como este
acontecimento, na continuidade, muitos outros prodígios o Irmão Anchieta fez em
Iperoig, e tantos foram, que os Tamoios passaram a respeitá-lo como um poderoso
“feiticeiro”.
Depois
deste fato, o Cacique Cunhambebe decidiu que o Irmão José de Anchieta deveria
voltar a São Vicente, a fim de evitar futuras discórdias. E ele próprio, o
Cacique Cunhambebe foi quem o conduziu de regresso.
Em
São Vicente, as conversações chegaram ao seu final, Padre Manuel da Nóbrega
conseguiu a libertação de todos os índios prisioneiros, e inclusive da índia
Igaraçu, noiva do Cacique Aimberê. Assim, na sua longa missão de sete meses
entre os índios, os Jesuítas conseguiram instaurar a paz, pelo menos com as
tribos cujos Chefes foram a Iperoig, para onde logo regressaram Cunhambebe e
Aimberê.
Durante
o período de paz, os franceses viviam com os índios Tamoios na Guanabara, e
para mais cativar a amizade dos selvagens, desenvolveram na tribo, a criação de
gado e instalou e incrementou a produção de tecidos em teares manuais.
Mesmo
no ano 1563, quando Anchieta conviveu diariamente com o perigo de morte em
Ubatuba, por causa dos índios que não queriam a paz, agora o perigo de morte
voltou novamente a ameaçar os jesuítas e os índios do Planalto de Piratininga,
por causa de uma terrível epidemia de varíola, espalhada pelos europeus, que
matou quase trinta mil índios na costa brasileira. Os férteis campos de
Piratininga logo se transformaram num vasto hospital a céu aberto para atender
a todos os casos.
Nessa
ocasião, Irmão José valeu-se do seu conhecimento das ervas nativas e com
sabedoria aplicou aqueles produtos em beneficio dos selvagens enfermos. Nos
casos mais graves, recorria aos sangramentos que apavoravam os índios, já que
andavam bastante assustados com a doença que nunca tinham visto. O resultado
foi admirável, sendo milhares de vidas salvas, pelas mãos dos missionários
Jesuítas.
FUNDAÇÃO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
Debelada
a epidemia de varíola, também na Capitania da Guanabara, a ameaça dos Tamoios
fez o Padre Nóbrega chamar novamente o Irmão José de Anchieta. Desta vez,
atendendo a convocação do Governador do Brasil, eles foram à Guanabara ajudar
na fundação de um forte e na edificação de uma cidade para fazer frente aos
franceses apoiados pelos Tamoios. O Governador Mem de Sá incumbiu esta tarefa
ao seu sobrinho Estácio de Sá, que imediatamente convocou Nóbrega e Anchieta, e
também, para povoar o vilarejo que ia construir, chamou gente de outras
capitanias e até de Portugal.
Mesmo
com a resistência do inimigo, o povoado, que recebeu o nome de São Sebastião do
Rio de Janeiro, começou a se tornar realidade em janeiro de 1565.
Durante
esses dois anos, Anchieta serviu como mensageiro, levando notícias dos
acontecimentos no Rio de Janeiro a Mem de Sá, Governador Geral do Brasil, que
estava em Salvador, na Bahia.
Todavia,
as tribos dos Tamoios da região da Guanabara, prosseguiram com os seus ataques
e hostilidades contra as fazendas e população civil.
Por
essa razão, silenciosamente, os portugueses neste período, também decidiram
aumentar o poderio militar. Os índios da região, sempre muito observadores,
começaram a recear que iam perder a sua liberdade, e assim, mesmo sabendo da
grande desigualdade de forças, não se intimidaram, e enfrentaram os portugueses
num renhido combate. A guerra se estendeu por mais de um ano, e só terminou
quando o Governador Geral do Brasil, Mem de Sá, que estava em Salvador, na
Bahia, reforçou o exército de seu sobrinho Estácio de Sá na Guanabara, trazendo
pessoalmente uma grande guarnição militar em três navios e muita munição. Os
portugueses destruíram tudo, queimaram as tribos indígenas e as naus francesas.
A batalha terminou no dia 20 de Janeiro de 1567, com a morte do grande
guerreiro indígena Cacique Aimberê, Chefe da Confederação dos Tamoios. Na
última batalha, Estácio de Sá foi ferido na face por uma flecha envenenada. Não
deu grande importância, porque parecia um ferimento banal. Mas o veneno
trabalhou lentamente e causou uma séria infecção, matando-o no dia 20 de
Fevereiro de 1567, um mês depois do grande combate. Padre José de Anchieta
estava presente e ministrou-lhe os últimos Sacramentos.
Os
franceses que não foram mortos se renderam e no julgamento, foram condenados a
morte, mas receberam o auxílio religioso. Um deles, no entanto, não aceitou a
assistência do missionário Jesuíta, porque não estava arrependido de suas
heresias. Irmão José foi incumbido de conversar com o homem e com a graça de
DEUS, levou-o a se converter.
O
cronista da época relatou, que no momento da execução, como a laçada da forca
tinha sido mal feita, o francês ficou sofrendo pendurado, mas não morria. Irmão
Anchieta ficou aflito e preocupado, porque aquele sofrimento não fazia parte da
execução. Então, repreendeu o carrasco, orientando-o a fazer corretamente o seu
oficio. A corda foi levantada, o laço foi refeito e o homem finalmente morreu
enforcado.
Este
episódio, durante longo tempo, se constituiu como um obstáculo a beatificação
de Anchieta, porque algumas autoridades religiosas entenderam como se o Irmão
José tivesse encontrado prazer na execução do francês. E na realidade, o que
ele não queria era aumentar o sofrimento daquele infeliz que estava pagando o
seu tributo à sociedade na forca, por ter sido condenado à morte pela justiça
dos homens. A Sagrada Congregação dos Ritos por fim, aceitou os argumentos do
Padre Hélio Abranches Viotti, SJ, postulador da causa, e Padre José de Anchieta
foi beatificado.
FINALMENTE SACERDOTE DO ALTÍSSIMO
No
início de 1566, em mais uma daquelas idas e vindas a Salvador, na Bahia, com a
missão de levar as notícias ao Governador Mem de Sá, o irmão José finalmente
completou os seus estudos e recebeu os últimos ensinamentos necessários, sendo
ordenado sacerdote no dia 22 de Agosto de 1566. Aos trinta anos de idade,
realizou o seu sonho pelas mãos de Dom Pedro Leitão, bispo do Brasil, que fora
seu colega de estudos em Coimbra. E assim, voltando da missão, incorporado a
esquadra preparada pelo Governador Geral do Brasil para auxiliar o seu sobrinho
Estácio de Sá na conquista definitiva da Guanabara, para expulsar os franceses
e acabar com a Confederação dos Tamoios, chegou ao Rio de Janeiro e participou
da batalha final.
De
1567 a 1577 governou os Jesuítas das Casas de São Vicente e São Paulo. Em
Setembro do ano 1577 voltou a Salvador, na Bahia, e com a morte do Padre Manuel
da Nóbrega, foi nomeado Provincial do Brasil, que é o cargo mais elevado da
Companhia de Jesus.
Em 1582, uma esquadra espanhola comandada por Diogo Flores
Valdez, devido a uma preocupante emergência de escorbuto na tripulação, atracou
no porto do Rio de Janeiro. Padre José de Anchieta mandou construir um barracão
para tratar dos marujos e providenciou agasalhos, alimentos e ervas medicinais
da flora brasileira, conforme tinha aprendido com os índios, auxiliando de
maneira inteligente e efetiva.
Embora improvisado, as instalações atenderam as necessidades e a
maioria recobrou a saúde. E por isso, o barracão não foi demolido, e continuou
a ser utilizado como um local adequado e muito procurado pelo povo carente da
região a fim de tratar de suas enfermidades. E em consequência, se tornou o
primeiro hospital do Rio, ou seja, a Santa Casa de Misericórdia.
Num dia 24 de Junho, quando se comemora a festa de São João, na
Vila do Espírito Santo (Vitória), o povo se divertia com as cenas engraçadas
que aconteciam. E numa delas, vários homens corriam atrás de um pato, pois a
brincadeira consistia em pegar o pato. E na ânsia de pegá-lo, alguns derrapavam
e deitavam no chão, outros pulavam no vazio porque o pato saia de lado, até que
dois rapazes agarraram o “bicho” (bicho não, a ave) ao mesmo tempo. E
agora? Concretizou-se um impasse! Quem era o vencedor? O Padre Anchieta que
assistia a tudo foi convidado a decidir a questão. Ele de imediato transferiu a
responsabilidade a um menino de quatro anos, que era mudo de nascença, e estava
ao lado. O Padre lhe perguntou:
- “Dize-me, quem foi que ganhou o pato”?
- “Foi este, respondeu o menino, mas o pato é meu, pois quero
levá-lo para minha mãe”!
Diante de todos que conheciam a criança, aconteceu o milagre! O
menino mudo de nascença recuperou a voz, pela misericórdia infinita de DEUS e
preciosa intercessão do Padre Anchieta!
Em outra ocasião, viajando numa canoa no rio Itanhaém, um grupo
de Jesuítas com suas batinas pretas, padeciam sob calor escaldante do sol.
Padre Anchieta que estava entre eles, chamou em voz alta algumas aves que
estavam nas árvores próximas à margem do rio. Sem demora, um bando de guarás
atendeu ao chamado e ficaram dando voltas por cima da canoa, produzindo uma
aliviadora sombra para os religiosos, até o porto de desembarque.
Os pássaros eram os seus companheiros mais fieis, pousavam sobre
os seus ombros e até sobre o seu breviário.
O trabalho do Padre Anchieta foi digno e admirável sobre todos
os aspectos, além de auxiliar de modo eficiente a divulgar o cristianismo e a
enraizá-lo no Brasil. Levou o seu conhecimento, a sua fé e o seu imenso amor a
grande parte do território nacional, percorrendo as distâncias quase sempre a
pé, ou a cavalo e em embarcações, atendendo e socorrendo pequenos recantos e também
as Aldeias e Vilas. Abriu caminhos que se transformaram em estradas e
contribuiu para manter unificado o país nos séculos futuros. Lançou os
fundamentos da catequese e da educação dos jesuítas, útil e benéfica a todo o
povo, e com seu carisma de comunicador, conseguiu um amplo e amigável
entendimento com todos os índios.
Anchieta
ganhou vários títulos, como: “Apóstolo do Novo Mundo”, “fundador da
cidade de São Paulo”, “curador da alma e do corpo”, “carismático”,
“Santo”, e principalmente “Apóstolo do Brasil”.
Ensinava
latim e português aos colonos, seminaristas e aos índios, cuidava dos feridos,
dava conselhos, escrevia poesias e autos em vários idiomas, inclusive o "tupi",
conquistando de maneira concreta a confiança dos nativos. Os autos que escreveu
e o grande número de apresentações fizeram com que seja considerado como o
fundador do teatro brasileiro.
MORTE E BEATIFICAÇÃO
Desde
1585 pediu dispensa do posto maior de Provincial, por causa das suas
enfermidades. O cargo exigia que todos os anos ele visitasse as casas Jesuítas
do Brasil, o que sempre fez, exceto quando impedido pela pouca saúde. Em 1588,
chegando o seu substituto, deixou o cargo de Provincial e assumiu como superior
as casas no Espírito Santo. Aí permaneceu o resto de seus dias, com exceção de
três interrupções, quando foi à Bahia em 1592, para a Congregação Provincial, e
em 1593 e 1594, quando foi ao Rio de Janeiro como Visitador. Além da Casa de
Vitória, ocupava-se igualmente do governo das aldeias de Reritiba (Anchieta),
Guarapari, Reis Magos e Carapina, no Estado do Espírito Santo.
Estando
na Vila do Espírito Santo (Vitória) e sentindo que o seu fim estava próximo,
pediu que o levassem à
Aldeia de Reritiba
(Anchieta), onde faleceu no Senhor no dia 9 de junho de 1597, com 63 anos de
idade, dos quais, 44 anos dedicados a formação religiosa do povo brasileiro. De
Reritiba (Anchieta) foi transportado de volta à Vitória. O cortejo fúnebre
formado por pessoas de diversas etnias e classes sociais contava com mais de
3.000 índios que faziam questão de carregar nos ombros o caixão de Anchieta,
num percurso de 80 quilômetros, durante três dias de viagem, sendo recebido na
Vila do Espírito Santo (Vitória) solenemente por todo o povo e autoridades,
tanto eclesiásticas como civis.
Anchieta
cumpriu em tudo e de maneira admirável as atividades próprias dos jesuítas e
demais missionários daquela época. Não só as praticou, mas distinguiu-se como
mestre. Em 1560, escreveu ao Padre Geral da Companhia de Jesus, Diogo Laínes,
em Roma, Itália:
"Quase sem cessar, andamos visitando várias povoações, tanto
de índios, como de portugueses, sem fazer caso de calmas, chuvas e grandes
enchentes de rios, e muitas vezes à noite por bosques muito escuros socorremos
os enfermos, não sem grande trabalho, seja pela aspereza dos caminhos, como
pela inclemência do tempo. Sendo tantas as povoações e tão distantes umas das
outras, nem nós bastamos para acudir a tão variadas necessidades, como ocorrem,
nem, ainda que fôssemos muitos mais, seriamos suficientes. A isto se ajunta que
nós, que socorremos as necessidades dos outros, muitas vezes estamos mal
dispostos e, fatigados de sofrimentos, e desfalecemos pelo caminho, de maneira
que apenas o conseguimos levar a cabo a missão. Deste modo não menos
necessidade de ajuda parece terem os médicos, do que os enfermos. Mas nada é
árduo aos que têm por fim somente a glória de Deus e a salvação das almas,
pelas quais não duvidam em dar a própria vida".
Dele
se contam muitos prodígios, profecias e milagres, curas de todas as naturezas,
e até mesmo a familiaridade com pássaros e animais ferozes, como um São
Francisco brasileiro, ou um Santo Antônio de Pádua de nossa terra. Dele se diz
que rezando ou meditando, levitava em êxtase. Enfim, suas virtudes e
qualidades, as suas criações espirituais e literárias, e um grande número de
extraordinárias manifestações, lhe propiciaram uma grande fama, que
humildemente jamais utilizou e aceitou, e que nunca se considerou merecedor.
Foi Beatificado pelo Papa João Paulo II, no dia 22 junho de 1980, depois do
processo ter se arrastado por mais de 300 anos ma Cúria Romana. Segundo o
conteúdo do Processo, para a prova definitiva foi utilizado para a
Beatificação, o “milagre” acontecido por sua fervorosa intercessão,
quando converteu três pessoas ao cristianismo num mesmo dia, salvando três
almas da condenação eterna.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Cronologia da vida de José de Anchieta.
- 1534
- Nasceu em San
Cristobal de Laguna, Tenerife, Ilhas Canárias (Espanha) - 19 de março
- 1548
- Coimbra, Portugal - Matrícula na Universidade de
Coimbra para aperfeiçoamento da língua latina
- 1549
- Coimbra, Portugal - Início de estudos eclesiásticos
na Companhia de Jesus
- 1551
- Coimbra, Portugal - Ingresso como noviço na
Companhia de Jesus
- 1553
- Brasil - Por conselho médico, em companhia do 2°.
governador-geral, Duarte da Costa, desembarca na Capitania da Bahia - Início de
estudos da língua dos indígenas - Segue para a Capitania de São Vicente
- 1554
- São Paulo do Campo de Piratininga [São Paulo] -
Professor de latim, professor de índios e mamelucos; professor dos noviços que
entraram para a Companhia de Jesus no Brasil - Participa, com outros jesuítas
da fundação do Colégio dos Jesuítas, núcleo da cidade de São Paulo.
- 1563
- Ubatuba
SP - Participa com o Padre Manoel da Nóbrega do Armistício de Iperoig,
pacificando os índios (Confederação dos Tamoios) - Iperoig [Praia de
Iperoígue, Ubatuba] SP
-1563; 1577; 1593 - Ilha
Bela e Ubatuba praia do Iperoig ou do Cruzeiro.
- 1563
a 1595 - São Paulo SP, Rio
de Janeiro e Espírito Santo - Autor de poesia, teatro (em verso), prosa
informativa e histórica.
- 1569
-Reritiba [Anchieta]
ES - Reitor do Colégio de Jesus
- 1565 - Bahia
- 1566 - Rio de Janeiro RJ
- 1567 - Bahia
- 1569 -Reritiba [Anchieta]
ES
- 1569 a
1577 - São
Vicente SP
- 1577 a
1568- Rio de Janeiro RJ
- 1586 a
1597- Reritiba [Anchieta] ES
- 1597 - Reritiba,
atual Anchieta ES - Morre em 9 de junho
- 1980 -
José foi honrado com a beatificação.
- 2014
– No dia 3 marçoJose de Anchieta foi declarado santo pelo Papa Francisco.
AGÊNCIA METROPOLITANA DA
BAIXADA SANTISTA - AGEM
CANAN
Associação Pró-Canonização de Anchieta
Rua Joaquim Távora, 93 - 6º andar - Vila
Mathias - Santos - SP - CEP: 11075-300
Tel.: (13) 3202-7000 - www.agem.sp.gov.br
Rua Bela Cintra, 968 - 8o. Andar - CEP
01415-000 - São Paulo - SP - Brasil
Tel. 55 11 3255.0345 - Fax: 55 11 3258.9576
- e-mail: apostolodobrasil@uol.com.br
Imagens
Resumo
Um dos primeiros missionários católicos a chegar ao
Brasil, o padre José de Anchieta ficou conhecido pelo seu admirável trabalho de
catequese dos índios brasileiros.Nascido em Tenerife (1533), uma das ilhas Canárias,
um grande devoto da Virgem Maria. Anchieta viveu com os pais até os 14 anos,
depois mudou-se para Coimbra – Portugal, onde foi estudar filosofia no Colégio
das Artes até seus 18 anos, quando iniciou na Companhia de Jesus. Da família de
12 irmãos, Anchieta teve além dele, mais dois sacerdotes: O Padre Pedro Nuñez e
Padre Melchior.Sua dedicação ao trabalho causou-lhe alguns
problemas de saúde. Imaginando que as dores eram provas divinas, o Padre
Anchieta dedicava-se ainda mais ao trabalho. O resultado foram lesões
permanentes na coluna que o acompanharam por toda a vida. Por essas dores ele
se interessou em embarcar para o Brasil, devido ao fato de o clima ser mais
ameno que o da Europa.José de Anchieta chegou ao Brasil em 1553,
desembarcando em Salvador,BA em 13 de julho, na esquadra de Dom Duarte da
Costa, segundo Governador Geral do Brasil. Junto com ele, vieram mais 6 padres
jesuítas, todos doentes, iniciando os trabalhos evangélicos na capitania de São
Vicente.Anchieta não encontrou a cura para seus males e
dores, mas se dedicou a catequizar os índios brasileiros e para isso, foi viver
no meio deles. Aprendeu seus idiomas, seus costumes e lendas. A doze léguas dali, no dia 25 de janeiro ele formou o terceiro colégio regular do Brasil, dia em que foi realizada a primeira missa da fundação sendo celebrada a Conversão de São Paulo, e por esse motivo o lugar foi consagrado ao apóstolo desse nome.
Anchieta desempenhou ali um intenso trabalho. Ensinou a língua portuguesa aos filhos dos índios e portugueses e compôs a primeira gramática da língua tupi. Escreveu varias peças de teatro e hinos, compôs poemas e escreveu obras em português, latim, tupi e guarani.
Acompanhou Pe. Nóbrega nas negociações da paz entre portugueses e índios Tamoios, entregando-se aos índios como refém como prova de sinceridade, ficando mais de 6 meses entre os Iperoig. Nesse tempo, nada fácil e de contínuos riscos para sua vida, escreveu nas areias da praia de Ubatuba, o seu Poema à Virgem..Retornando a Piratininga foi nomeado reitor do Colégio de São Vicente, e elevado em 1578 à dignidade de provincial (superior) do Brasil depois da morte do Padre Manoel da Nóbrega. Chamado pelos gentios de payé-guaçu (amarra-mãos), e de santo pelos portugueses, o sacerdote apresentava-se desarmado diante de índios menos amigos, e obtinha triunfos extraordinários.Transferido para o atual estado do Rio de Janeiro, participou ativamente da fundação da cidade e foi de importante atuação na expulsão dos invasores franceses calvinistas que ali pretendiam instalar uma colônia. Fundou a Santa Casa da Misericórdia no Rio de Janeiro (1582).Desenvolveu sua atividade missionária também na Bahia, em Pernambuco e finalmente mudou-se para o Espírito Santo (1587), onde passou a se dedicar à organização de várias aldeias indígenas, até que morreu em Reritiba, hoje Anchieta.
Foi beatificado pelo Papa João Paulo II, no dia 22 junho de 1980, sem provas de seus milagres, e canonizado Santo, pelo Papa Francisco em 03 de abril de 2014.